Por mais recorrente que
sejam os textos falando da atual crise econômica, senti a necessidade de
reforçar alguns pontos que já vem sendo discutidos.
Com o advento do
neoliberalismo, depois da restauração capitalista que aconteceu no Leste Europeu,
o espírito individualista passou a vigorar, destacando o esforço individual
como único meio de melhorar a vida, negando a visão coletiva que a luta de
classes propõe e, por conseguinte, o socialismo.
Depois da hegemonia do
Capital, o mundo vive hoje mais uma de suas crises. Países até então
imperialistas, que segundo Lênin é a “fase superior do capitalismo”, estão com
suas economias quebradas.
Isso nos faz pensar na
afirmação de Marx, que posteriormente foi reforçada por outros pensadores,
dentre eles Robert Kurz, de que o capitalismo é autofágico.
Esse colapso do
capitalismo se dá pela exploração do trabalho em função do Capital e a busca
constante da Mais-valia. Não era difícil prever tal crise. É só pensar na
lógica do Capital. Para obtenção de lucro, destaco duas formas, a primeira pela
redução ou arrocho salarial, e a segunda pela implementação de novas
tecnologias que diminuam os custos.
Para o primeiro, se prevê
uma redução de salário, ou não aumento do mesmo, a fim de obter mais lucros. Só
que dessa forma o Capital impede o acesso ao bem produzido pelo próprio
trabalhador, o que significará uma maior oferta para pouca demanda, em outras
palavras, você força uma maior produção e não aumenta o salário, privando o
trabalhador da obtenção dos bens produzidos.
Para sanar essa diferença
os bancos privados (e em alguns casos o governo, através de bancos estatais)
oferecem créditos. Para essa “solução” é necessário o levantamento de dois
pontos cruciais. Com a liberalização de crédito as empresas não se vêem
forçadas a aumentarem os salários, preservando seus lucros, e transferem essa
responsabilidade aos bancos, que é através dos pagamentos das dívidas
que obtêm seus lucros.
A curto prazo, essa
liberação de crédito pode se mostrar uma boa saída, mas a longo prazo pode ser
caminho sem volta. Como aconteceu na
atual crise dos EUA, onde cresceu a “Bolha” de crédito, resultando numa das
piores crises mundiais, que se alastrou, como efeito dominó, a todo a mundo.
O outro ponto, que diz
respeito a implementação de novas tecnologias, Roberto Schwarz explica no trecho abaixo:
Pela primeira vez o aumento de produtividade está
significando dispensa de trabalhadores também em números absolutos, ou seja, o
capital começa a perder a faculdade de explorar o trabalho. A mão-de-obra
barata e semiforçada com base na qual o Brasil ou a União Soviética contavam
desenvolver uma indústria moderna ficou sem relevância e não terá comprador.
Depois de lutar contra a exploração capitalista, os trabalhadores deverão se
debater contra a falta dela, que pode não ser melhor.¹
Ao contrário
do socialismo, que não teve chance para revisão ou atualização, que na primeira
crise foi substituído, o capitalismo tem o “aval” de se revisar e buscar
soluções para suas crises, sobre isso Leon Trotsky afirma que:
Não há nenhuma crise que, por si mesma, possa ser
‘mortal’ para o capitalismo. As oscilações da conjuntura criam somente uma
situação na qual será mais fácil ou mais difícil para o proletariado derrotar o
capitalismo. A passagem da sociedade burguesa para a sociedade socialista
pressupõe a atividade de pessoas vivas, que fazem sua própria história.
Isso implica na
organização dos trabalhadores. E para isso é preciso organizações que legitimem
a força dos trabalhadores, como sindicatos e partidos políticos. Dentro dessa
análise, vale ressaltar a afirmação de Marilena Chauí quando fala do progresso
da história:
A
história não é sucessão de fatos no tempo, não é progresso das ideias, mas o
modo como homens determinados em condições determinadas criam os meios e as
formas de sua existência social, reproduzem ou transformam essa existência
social que é econômica, política e cultural
Antes disso, Marx já fez
essa relação entre o modo de produção e as mudanças sociais, dizendo que “As
relações sociais são inteiramente interligadas às forças produtivas.” Afirmando
que, mudando o modo de produção, consequentemente se altera as relações sociais.
De acordo com essas
afirmações, vai do homem “em condições determinadas”, que podemos entender pela
atual crise do Capital, se organizar e romper com o atual sistema.
Nesse momento é possível
ver emergir, em diversos países do mundo, organizações, partidárias ou não, de
posicionamentos extremistas, como é o caso do Partido Neonazista Chryssi Avghi
(Amanhecer Dourado), na Grécia , como divulgado no blog
UmaCascadeNoz .
Isso mostra um claro
envolvimento político que momentos como esses proporcionam. Em momentos de
crise, é possível observar um maior engajamento da população, o mesmo
envolvimento se dá em momentos de euforia econômica, onde se vê certa
“alienação” por parte da população. E é dentro desse cenário que os extremos
vêem força para atuar. Como citado acima o partido Neonazista na Grécia, ou
também a vitória de Hollande, na França. Nos casos, embora incomparáveis em
termos ideológicos, mostram a busca da população por alternativas que revertam
o quadro de crise que assola os países.
Em meio a essa análise, de
acordo com o que foi discorrido, entendo por esse momento um marco decisivo
para o Capital. O julgamento há tempos adiado está acontecendo. As soluções são
cada vez mais escassas, a população já não vê resultados, nem respostas de seus
governantes. Surgem a cada dia novas manifestações, contestações, greves. Agora
é a hora de uma esquerda organizada, capaz de unir essas forças, agir politicamente
dentro da sociedade, para acabar de vez com a investida neoliberal.
¹ A propósito do livro de
Robert Kurz: O Colapso da
Modernização; Da
derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial.
Editora Paz e Terra. Ano
1991.