quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Enfim, o caos.


Está tudo perdido. O mundo está uma bosta e não tem mais jeito. Onde já se viu, gente fazendo caridade e se orgulhando disso? Não! Isso não está certo. Quando coisa boa vira exceção é sinal de fim dos tempos, ou melhor, fim do mundo.
Que acabe mesmo em 2012, talvez seja melhor assim. Sei lá, vai que os mais crentes estão certos e realmente existe a tal vida após a morte. Espero que ao menos lá as coisas  caminhem melhor. Não espero um “paraíso”, isso também não deve ser muito bom, é uma calmaria tediante, mas que seja melhor, sem essa de “cada um por si e que se fodam os outros”.
Agora, se não acabar em 2012 complica... As tecnologias, por milhões que custam, não possibilitaram nossa vida em outro planeta. Cheguei a cogitar uma sociedade alternativa, dessas que se come àquilo que planta, que se prega a liberdade e tal, mas ai fiquei pensando na velocidade e voracidade dos avanços do mercado e percebi que qualquer sociedade dessa seria, no máximo, uma colônia de férias.
O caos. Arrisco dizer num caos geral. É para isso que caminhamos.
A imagem que me vem a cabeça é aquela que descreve Saramago em seu livro “Ensaio sobre a cegueira”. Aqui, o cego já fomos. O caos será quando o inverso acontecer, quando conseguirmos enxergar o mundo, enxergar aonde chegamos. A cegueira será de opção.
Ai quem sabe, quando tudo isso por fim acabar, alguma outra explosão reviva o Big Bang e tudo volte às cavernas.

Enquanto isso não acontece, que ao menos tentemos mudar, fazer diferente, tirar a bunda do sofá e parar de curtir status no facebook. Vamos viver uma vida mais agitada. Como já disse Maiacovsky, “é melhor morrer de vodca do que de tédio”.




quarta-feira, 18 de julho de 2012

Lembranças da ditadura


Volta à tona a ‘ameaça comunista’ tão falada no período que antecedeu o Golpe civil-militar brasileiro. A ameaça a liberdade e democracia que supostamente o comunismo traria ao Brasil, motivou e legitimou os militares a recorrerem às armas e tomar o poder.
Agora, talvez por um saudosismo, César Maia retoma algumas dessas ideias da Guerra Fria.
As últimas se deram pelas relações com Cuba (antigo inimigo dos ianques) e com a Venezuela. Os exemplos forma publicados em seu blog sob o título de  “Terceirização Vermelha: em 2013 chegam ao Brasil 1.500 médicos cubanos contratados.” Maia diz que “formação de Dilma na esquerda revolucionária dos anos 1970” estaria influenciando a presidenta nas decisões.  Outro ponto de ataque foi o discurso da Dilma no 1º de Maio. 
Depois da morte de Carlos Lacerda uma parte da elite e setores militares sentiram falta de um líder de direita, posto que Maia, calculadamente, assumiu. Através desse posicionamento César Maia conquistou por duas vezes a prefeitura do Rio de Janeiro. 

As eleições de Maia e sua atual candidatura a vereador ressaltam a parcela da população brasileira que se sentiu desamparada com o fim do Regime Militar.
Não podemos esquecer que no dia 2 de abril de 1964 o Rio de Janeiro foi palco da maior manifestação pró-Golpe do país, reunindo 1,5 milhão de manifestantes que saíram às ruas para aclamas os militares.

São os resquícios de um período que manchou a história brasileira.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A Crise do Capital e a chance para uma nova sociedade


Por mais recorrente que sejam os textos falando da atual crise econômica, senti a necessidade de reforçar alguns pontos que já vem sendo discutidos.
Com o advento do neoliberalismo, depois da restauração capitalista que aconteceu no Leste Europeu, o espírito individualista passou a vigorar, destacando o esforço individual como único meio de melhorar a vida, negando a visão coletiva que a luta de classes propõe e, por conseguinte, o socialismo.
Depois da hegemonia do Capital, o mundo vive hoje mais uma de suas crises. Países até então imperialistas, que segundo Lênin é a “fase superior do capitalismo”, estão com suas economias quebradas.
Isso nos faz pensar na afirmação de Marx, que posteriormente foi reforçada por outros pensadores, dentre eles Robert Kurz, de que o capitalismo é autofágico.
Esse colapso do capitalismo se dá pela exploração do trabalho em função do Capital e a busca constante da Mais-valia. Não era difícil prever tal crise. É só pensar na lógica do Capital. Para obtenção de lucro, destaco duas formas, a primeira pela redução ou arrocho salarial, e a segunda pela implementação de novas tecnologias que diminuam os custos.
Para o primeiro, se prevê uma redução de salário, ou não aumento do mesmo, a fim de obter mais lucros. Só que dessa forma o Capital impede o acesso ao bem produzido pelo próprio trabalhador, o que significará uma maior oferta para pouca demanda, em outras palavras, você força uma maior produção e não aumenta o salário, privando o trabalhador da obtenção dos bens produzidos.
Para sanar essa diferença os bancos privados (e em alguns casos o governo, através de bancos estatais) oferecem créditos. Para essa “solução” é necessário o levantamento de dois pontos cruciais. Com a liberalização de crédito as empresas não se vêem forçadas a aumentarem os salários, preservando seus lucros, e transferem  essa  responsabilidade aos bancos, que é através dos pagamentos das dívidas que obtêm seus lucros.
A curto prazo, essa liberação de crédito pode se mostrar uma boa saída, mas a longo prazo pode ser caminho sem volta.  Como aconteceu na atual crise dos EUA, onde cresceu a “Bolha” de crédito, resultando numa das piores crises mundiais, que se alastrou, como efeito dominó, a todo a mundo.
O outro ponto, que diz respeito a implementação de novas tecnologias, Roberto Schwarz explica no trecho abaixo:

Pela primeira vez o aumento de produtividade está significando dispensa de trabalhadores também em números absolutos, ou seja, o capital começa a perder a faculdade de explorar o trabalho. A mão-de-obra barata e semiforçada com base na qual o Brasil ou a União Soviética contavam desenvolver uma indústria moderna ficou sem relevância e não terá comprador. Depois de lutar contra a exploração capitalista, os trabalhadores deverão se debater contra a falta dela, que pode não ser melhor.¹

Ao contrário do socialismo, que não teve chance para revisão ou atualização, que na primeira crise foi substituído, o capitalismo tem o “aval” de se revisar e buscar soluções para suas crises, sobre isso Leon Trotsky afirma que:

Não há nenhuma crise que, por si mesma, possa ser ‘mortal’ para o capitalismo. As oscilações da conjuntura criam somente uma situação na qual será mais fácil ou mais difícil para o proletariado derrotar o capitalismo. A passagem da sociedade burguesa para a sociedade socialista pressupõe a atividade de pessoas vivas, que fazem sua própria história.

Isso implica na organização dos trabalhadores. E para isso é preciso organizações que legitimem a força dos trabalhadores, como sindicatos e partidos políticos. Dentro dessa análise, vale ressaltar a afirmação de Marilena Chauí quando fala do progresso da história:

A história não é sucessão de fatos no tempo, não é progresso das ideias, mas o modo como homens determinados em condições determinadas criam os meios e as formas de sua existência social, reproduzem ou transformam essa existência social que é econômica, política e cultural

Antes disso, Marx já fez essa relação entre o modo de produção e as mudanças sociais, dizendo que “As relações sociais são inteiramente interligadas às forças produtivas.” Afirmando que, mudando o modo de produção, consequentemente se altera as relações sociais.
De acordo com essas afirmações, vai do homem “em condições determinadas”, que podemos entender pela atual crise do Capital, se organizar e romper com o atual sistema.
Nesse momento é possível ver emergir, em diversos países do mundo, organizações, partidárias ou não, de posicionamentos extremistas, como é o caso do Partido Neonazista Chryssi Avghi (Amanhecer Dourado), na Grécia , como divulgado no blog UmaCascadeNoz .
Isso mostra um claro envolvimento político que momentos como esses proporcionam. Em momentos de crise, é possível observar um maior engajamento da população, o mesmo envolvimento se dá em momentos de euforia econômica, onde se vê certa “alienação” por parte da população. E é dentro desse cenário que os extremos vêem força para atuar. Como citado acima o partido Neonazista na Grécia, ou também a vitória de Hollande, na França. Nos casos, embora incomparáveis em termos ideológicos, mostram a busca da população por alternativas que revertam o quadro de crise que assola os países.
Em meio a essa análise, de acordo com o que foi discorrido, entendo por esse momento um marco decisivo para o Capital. O julgamento há tempos adiado está acontecendo. As soluções são cada vez mais escassas, a população já não vê resultados, nem respostas de seus governantes. Surgem a cada dia novas manifestações, contestações, greves. Agora é a hora de uma esquerda organizada, capaz de unir essas forças, agir politicamente dentro da sociedade, para acabar de vez com a investida neoliberal.   


¹ A propósito do livro de Robert Kurz: O Colapso da Modernização; Da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial. Editora Paz e Terra. Ano 1991.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

A pergunta chave para todo senso comum.


Ao estilo papagaio de pirata, tem gente que não cansa de repetir o que escuta ou assiste na grande mídia.
Não sei se em todos os lugares, mas aqui em São Paulo tenho a impressão de ter uma classe média que defende, com unhas e dentes, o título de detentora oficial do senso comum.
Que São Paulo tem um perfil mais reacionário, não é novidade. Aqui, estamos fechados à mudança, preservamos medos antigos e apoiamos valores que há tempos já não se encaixam mais à nossa sociedade.
Gosto de discussões, não fujo do debate, muito pelo contrário, acho que tudo isso acrescenta muito, mas nesse caso a questão é outra. Nessas situações, essas pessoas simplesmente repetem o que escutam, sem refletirem coisa alguma.
Quem nunca ouviu as frases: “político é tudo corrupto”, ou “esse bando de estudante maconheiro”? No meu caso, por razões obvias (basta ler meus textos) não faltam os comentários: “Como você pode gostar do Fidel Castro, aquele ditador” ou “Hugo Chaves é um maluco”, “Che Guevara era uma assassino” e por ai vai...
Aqui em São Paulo, especialmente, ouvir falar mal do Lula já virou rotina, a vantagem é que as “queixas” são sempre as mesmas, e para essas eu já tenho a resposta formada.
Dias desses, já irritado com essas repetições, fiz uma pergunta que talvez seja a chave para deixar de ouvir ou, simplesmente, para fazer com que essas pessoas pensem antes de falar. Resolvi perguntar: Por que?
As reações diante dessa pergunta foram as mais variadas.
Algumas pessoas travaram, não conseguiram falar mais nada. Outras tentaram justificar, mas sem sucesso. Algumas outras enchem o peito e soltam frases como “li na Veja” ou “passou no Jornal Nacional”, essas coisas. Para essas eu me permito não continuar, paro por ai mesmo e finjo que não escutei nada.
Mais uma vez, só pra enfatizar, o problema não é ter opinião divergente, o problema é repetir opiniões sem o menor conhecimento do fato, ao estilo papagaio de pirata...

Um trecho da música “Prioridades” de BNegão.

Osmose é como classifico quase que de vez em sempre o comportamento humano: o que quase todos fazem é o certo, o resto é pura viagem, ledo engano
Então é isso: living la vida tosca!
Nossa capacidade de enxergar a realidade será nosso passaporte de liberdade
Nosso maior inimigo somos nós mesmos
Reféns de nossa própria ignorância (ignorância da própria)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Carta de Salvador de todos os povos e lutas


Nós, representantes de 19 organizações de solidariedade, de 39 movimentos sociais e partidos políticos de todos os Estados brasileiros, além do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-Cuba, reunidos entre os dias 24 e 26 de maio, em Salvador, a mais cubana de todas as cidades brasileiras, na Bahia de todos os povos e lutas, na 20ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, reafirmamos a solidariedade do povo brasileiro ao povo cubano e sua Revolução.
A irmandade e a solidariedade entre nossos povos são de longa data. São próprias da formação destas duas nações. Nossa identidade é cultural, está presente no legado ancestral e no sincretismo das religiões de ascendência africana, na forma de ver o mundo e enfrentar as dificuldades, está presente nas lutas contra as injustiças, e pelo ideário de que a unidade da América Latina é nosso destino.
Celebramos neste histórico encontro o compromisso solidário e incondicional com o povo cubano e sua Revolução, que iniciou o processo de desenvolvimento social de caráter autônomo e soberano naquele país – a epopeia iniciada em janeiro de 1959, com a qual o povo cubano tem superado seus próprios limites, criando as bases de uma nova sociedade, mais justa e fraterna, adquirindo moral e autonomia perante o mundo inteiro para resistir aos assanhamentos do império estadunidense, raivosos vizinhos do norte.
Ao longo destas cinco décadas, o povo cubano tem sido exemplo de vida e heroísmo para os povos ao redor do mundo. A Revolução herdou um país pobre, socialmente injusto, ferido por anos de ditadura apoiada pelos Estados Unidos. Em poucos anos o povo cubano, liderado por Fidel Castro, transformou Cuba numa nação livre, soberana, socialmente desenvolvida, com índices de alfabetização, expectativa de vida, mortalidade infantil e nível cultural comparáveis aos dos países mais desenvolvidos.
Hoje, a 53 anos da vitória de janeiro de 1959, a política de isolamento dos EUA imposta a Cuba foi derrotada. Hoje, apesar das hostilidades estadunidenses, Cuba está plenamente integrada e ativa nos principais processos de integração que se desenvolvem na região, com destaque para a Alba e a Celac, e mantém frutíferos intercâmbios com a Unasul e o Mercosul. Constatamos com satisfação que, na última Cúpula das Américas, quem ficou isolado foram os EUA, país cujo governo continua aplicando políticas hostis à Ilha.
Dentro deste contexto denunciamos o perverso e criminoso bloqueio econômico que já custou mais de US$ 950 bilhões à economia cubana. Este ato ilegal perpetrado pelos EUA é a cada ano mais repudiado na Assembleia das Nações Unidas. Repudiamos as tentativas de grupos da máfia de Miami, de inibir as relações comerciais entre Brasil e Cuba.
Repudiamos as ações de terrorismo de Estado perpetradas pelos EUA contra o povo cubano. Elas vão de sabotagem por meio de ataques bacteriológicos ao rebanho suíno e à agricultura, até o apoio ostensivo a grupos paramilitares e terroristas sediados em Miami que ceifaram milhares de vidas inocentes. Entre essas ações se inclui o abominável crime cometido contra o avião civil cubano em Barbados.
Reiteramos uma vez mais nossa solidariedade com os cinco heróis cubanos, cuja missão foi impedir que atos terroristas como o de Barbados continuassem ocorrendo.
Por isto, exigimos a sua imediata liberdade. Comprometemo-nos a difundir por todos os meios a nosso alcance a causa dos cinco. De igual modo, nos somamos ao conjunto das ações organizadas internacionalmente por sua libertação.
Somamos nossas vozes às de todos os democratas do mundo exigindo o fechamento da base de Guantânamo e que cessem imediatamente as violações aos direitos humanos ali praticadas contra presos indefesos. Quem viola os direitos humanos são os Estados Unidos e não Cuba.
Condenamos as campanhas midiáticas contra Cuba, assim como o bloqueio genocida aplicado contra seu povo por parte do imperialismo estadunidense.
Comprometemo-nos a romper os muros do silêncio, desmascarar as mentiras, e a promover a verdadeira realidade cubana e suas enormes conquistas de humanismo, que se expressam entre outras coisas na política internacionalista de seu povo e governo ao ajudar os mais necessitados deste mundo.
Ratificamos o compromisso de divulgar com objetividade o processo de atualização do modelo econômico socialista de Cuba, implementado por seu governo e com apoio de seu povo. Confiamos plenamente na capacidade deste e da direção da Revolução para atingir estas novas conquistas.
Felicitamos o povo cubano que, não obstante as dificuldades decorrentes do bloqueio, jamais negou sua mão solidária aos povos do mundo, seja com o envio de profissionais de alta competência em missões humanitárias nos mais longínquos e remotos pontos do globo, seja com a formação acadêmica de milhares de jovens dos países mais pobres.
Chegamos ao final desta 20ª Convenção após ter realizado atividades em 22 Estados do país, fortalecendo a corrente da solidariedade a Cuba e sua Revolução.

Este processo demonstrou:

1 - Que nas atuais condições de nosso país é possível ampliar o aporte do movimento de solidariedade ao incremento das relações bilaterais entre Brasil e Cuba.

2 - Que o movimento de solidariedade hoje está em condições de dar um salto de qualidade, com novos atores, com mais maturidade, renovada vontade de trabalho coletivo e o mesmo espírito unitário e solidário de sempre.

3 - Que é possível e necessário que em nossos 27 estados o espírito solidário brasileiro dê novas mostras de compromisso com a defesa da Revolução cubana e de seu povo, impulsionando ações pela libertação dos cinco heróis e contra o bloqueio.

Eles são apenas 1%. Somos milhões e estamos com Cuba!

Em defesa da autodeterminação, da integração latino-americana e caribenha e da paz!

Viva a amizade e a solidariedade entre o Brasil e Cuba!

Viva a irmandade entre nossos povos!

Fim ao bloqueio e libertação dos cinco heróis já!


Salvador, Bahia, 26 de maio de 2012

A 20ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba