sexta-feira, 22 de julho de 2011

Uma doutrina triunfante

Em entrevista, Antonio Candido, um dos principais intelectuais do país, explica sua concepção de socialismo. Uma visão menos “temática” e pontual e mais aplicada.
Aos 93 anos, quando questionado se era socialista, Candido afirma “Claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo.”
Segundo ele, o capitalismo e socialismo são “irmãos-gêmeos”, nasceram juntos na revolução industrial. “Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo… tudo isso.”
Todas as conquistas dos trabalhadores são aplicações do socialismo. Por isso uma “doutrina triunfante” como fala Antonio Candido. Coisas hoje comuns, como as férias, 8 horas diárias, direitos conquistados pelas mulheres quando ficam grávidas... Tudo isso é conquista do pensamento socialista. Se dependesse do capitalismo dormiríamos nas fábricas e ganharíamos o suficiente pra não morrer de fome, tudo que foi criado para nos afastar dessa realidade é socialismo.
Ele diz que é indiferente o regime, se as diferenças forem sanadas o socialismo está se aplicando. Segundo ele, no Brasil: “Digo que o socialismo é uma doutrina triunfante porque suas reivindicações estão sendo cada vez mais adotadas.”
Por fim, abaixo um trecho da entrevista desse grande pensador, que aos seus 93 anos continua contribuindo, de um jeito ou de outro, para a justiça social, o socialismo. Para ler a entrevista na íntegra clique aqui.
Segue trecho:

“Acho que o mundo marcha para o socialismo. Não o socialismo acadêmico típico, a gente não sabe o que vai ser… o que é o socialismo? É o máximo de igualdade econômica. Por exemplo, sou um professor aposentado da Universidade de São Paulo e ganho muito bem, ganho provavelmente 50, 100 vezes mais que um trabalhador rural. Isso não pode. No dia em que, no Brasil, o trabalhador de enxada ganhar apenas 10 ou 15 vezes menos que o banqueiro, está bom, é o socialismo.
O socialismo é o cavalo de Troia dentro do capitalismo. Se você tira os rótulos e vê as realidades, vê como o socialismo humanizou o mundo. Em Cuba eu vi o socialismo mais próximo do socialismo. Cuba é uma coisa formidável, o mais próximo da justiça social. Não a Rússia, a China, o Camboja. No comunismo tem muito fanatismo, enquanto o socialismo democrático é moderado, é humano.”

terça-feira, 19 de julho de 2011

Esquerda Brasileira

Vivemos em um país democrático e livre (há controvérsias, mas falaremos disso depois) onde cada um pode se organizar, fazer, opinar e, se for do interesse, montar um partido.

Depois da retomada da democracia, após o golpe de 64, em 1985, o Brasil passou por um processo de redemocratização que, com o passar do tempo, dentre outras ações, ocorreu o surgimento de diversos partidos políticos.
No começo foram poucos e a divisão era bem clara, os de direita e os de esquerda. Hoje a disseminação foi tão grande que ficou difícil não só identificar, mas saber todos os partidos de esquerda no Brasil. Isso é bom, pois demonstra o quão democrática é nossa sociedade, mas para os esquerdistas (independente de partidos políticos) isso enfraquece a causa.
Antes de comentar sobre isso preciso traçar o que vou considerar “esquerda”. Tomando como base, por exemplo, o PP do deputado (ultra conservador, racista e homofóbico, e não, isso não é exagero) Jair Bolsonaro, temos como esquerda Brasileira o PT, PSOL, PCdoB, PCO, PSTU e todos outros que não lembro agora, não por falta de consideração, mas por falta de memória. Bom, dentre esses o PT é sem dúvida o maior deles. O Partido dos Trabalhadores nasceu quando os sindicatos resolveram mudar sua forma de atuação e concentraram a força dos trabalhadores num partido político. Com o tempo, muitas mudanças ocorreram tanto na sociedade quanto na base do PT, ocasionando certa estranheza dos outros partidos de esquerda mais radicais. Mesmo com vários setores dentro do partido mais radicais essa “centralizada” do PT contribuiu para a segmentação da esquerda brasileira. O próprio Psol tem diversos militantes ex-petistas, como o próprio Plínio de Arruda, ou do PSTU, como o Zé Maria, outro ex-petista. Isso não faz do PT um partido de direita, mas se diferencia dos outros por sua postura mais maleável.
Pois bem, a esquerda no Brasil está fragmentada. Enquanto não houver uma união e unificação do discurso ficará difícil fazer mudanças mais significativas no sistema em que vivemos.
Claro que isso, para não ser pessimista e falar que é impossível, não será fácil, basta comparar o discurso desses partidos. Enquanto o PT tem um discurso não tão radical, com uma boa conversa entre os partidos de direita, o Psol já se mostra um pouco mais radical, com propostas mais audaciosas e o PSTU sendo a extrema esquerda nessa comparação. Ou seja, nessa breve análise conseguimos traçar o perfil de três partidos de esquerda com discursos diferentes.
Não dá pra pedir que todos esses discursos se unifiquem e que todos militantes saiam andando de mãos dadas e lutando por uma causa comum. Todos beberam na mesma fonte, nasceram no mesmo berço e têm o mesmo propósito: apresentar ao Brasil uma nova opção para o desenvolvimento social, mais justo e igualitário, mas os caminhos traçados são diferentes.
Enquanto isso não acontece, o que nos resta é lutar para que a direita reacionária brasileira não assuma papel de destaque na política Nacional. É lutar para manter a esquerda no cenário, independente do nível ou esfera política, pois mesmo que não consigamos, por enquanto, grandes mudanças, devemos manter nosso espaço e lutar por um país mais justo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Os otavinhos

Por Emir Sader, no Blog do Emir

Os otavinhos são personagens típicos do neoliberalismo. Precisam do desencanto da esquerda, para tentar impor a ideia do tango Cambalache: “Nada é melhor, tudo é igual”.

Os otavinhos são jovens de idade, mas envelhecem rapidamente. Passam do ceticismo – todo projeto de transformação deu errado, tudo é ruim, todo tempo passado foi melhor, a política é por natureza corrupta — ao cinismo — quanto menos Estado, melhor, quanto mais mercado, melhor.
São tucanos, seu ídolo é o FHC, seu sonho era fazer chegar o Serra — a quem não respeitam, mas que lhes seria muito funcional — à Presidência. Vivem agora a ressaca de outra derrota, em barzinhos da Vila Madalena. Tem ódio ao povo e a tudo o que cheira povo — popular, sindicatos, Lula, trabalhadores, PT, MST, CUT, esquerda, samba, carnaval.
Se consideram a elite iluminada de um país que não os compreende. Os otavinhos são medíocres e ignorantes, mas se consideram gênios. Uns otavinhos acham isso de si e dos outros otavinhos. Só leem banalidades — Veja, Caras, etc. —, mas citam muito. Têm inveja dos intelectuais, da vida universitária, do mundo teórico, que sempre tratam de denegrir. Tem sentimento de inferioridade em relação aos intelectuais, que fazem a carreira que eles não conseguiram.
São financiados por bancos da família ou outras entidades afins, para ter jornais, revistas, editoras, fazer cinema, organizar festivais literários elitistas. Fingem que gostam da França, mas são chegados a Miami. Ficaram para trás com a internet, então abominam, como conservadores, reacionários idosos que é sua cabeça. Se reúnem para reclamar do mundo e da sua decadência precoce.
Os otavinhos não tem caráter e por isso se dedicam a tentar denegrir a reputações dos que mantêm valores e coerência, para tentar demonstrar que todo mundo é sem caráter, como eles. Os otavinhos assumem o movimento de 1932, acham que São Paulo é a “locomotiva da nação”, que é uma ilha de civilização cercada de bárbaros por todos os lados.
Os otavinhos detestam o Brasil, odeiam o Rio, a Bahia, o Nordeste. Odeiam o povo de São Paulo, querem se apropriar de São Paulo com seu espírito de elite. Os otavinhos moram ou ambicionam morar nos Jardins e acham que o Brasil seria civilizado quando tudo fosse como nos Jardins.
Os otavinhos nunca leram FHC, não entendem nada do que ele fala, mas o consideram o maior intelectual brasileiro. Os otavinhos são órfãos da guerra fria, da ditadura e do FHC. Andam olhando pra baixo, tristes, depressivos, infelizes. Os otavinhos compram todas as revistas culturais, colocam no banco detrás do carro e não leem nenhuma. Leem a Veja e Caras. Os otavinhos acham que a ditadura foi um mal momento, uma ditabranda.
Os otavinhos são deprimidos, depressivos, derrotados, desmoralizados, rancoroso, escrevem com o fígado. Os otavinhos têm úlcera na alma. Os otavinhos odeiam o Brasil, mas pretendem falar em nome do Brasil, para denegri-lo, promover a baixa estima. Os otavinhos pertencem ao passado, mas insistem em sobreviver.

terça-feira, 12 de julho de 2011

A cobertura da Mídia

Texto publicado no Portal Vermelho sobre corrupção traça a importância que a mídia tem na cobertura desse assunto.
Não podemos esquecer que, quando ficamos sabendo de alguma notícia, por trás de cada informação tem a percepção de quem passa, o fato é único, mas as interpretações são variadas, e são esses pontos de vistas que chegam até o espectador. Pensando nisso, no peso dado a cada informação, devemos tomar cuidado ao ver, ler ou ouvir uma notícia.
Longe de justificar os escândalos que horas surgem simplesmente por uma cobertura tendenciosa da mídia, mas como eu disse, devemos nos atentar aos fatos.
No artigo abaixo o antropólogo Marcos Otávio Bezerra diz que a mídia pode “aumentar a sensação de que estamos diante de uma situação catastrófica” e é pra isso que devemos nos atentar. Ficar refém da grande mídia pode te fazer viver num mundo que, nem sempre, é tão ruim assim.

Abaixo segue o artigo:

Por que a mídia diz que a corrupção aumentou no governo Lula?
Não há como saber se a corrupção aumentou no Brasil durante o governo Lula. A avaliação é do cientista político Ricardo Caldas e do antropólogo Marcos Otávio Bezerra, que participaram nesta segunda-feira (11) de uma mesa redonda sobre o custo da corrupção para o Estado brasileiro, programada para a primeira tarde de discussões da 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre em Goiânia.

Ricardo Caldas, que é professor da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou que a corrupção é um fenômeno global e que instituições multilaterais como o Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) não registram nenhuma variação da incidência da corrupção no Brasil. Segundo Caldas, esse tipo de informação não é precisa — mas baseada, sobretudo, na percepção da população e na cobertura da imprensa.
A mídia é que pode “aumentar a sensação de que estamos diante de uma situação catastrófica”, disse Marcos Bezerra, que é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). O efeito disso é o tratamento moralista da política, “como se o único problema fosse a corrupção”. Questões como a execução do programa de governo não entram em discussão pública. “Faz-se um uso social e político da corrupção”, alertou o antropólogo.
Bezerra defende que, em vez do apelo moral, a questão seja vista sob o aspecto institucional. O exemplo que usou foi o das relações dos parlamentares do Congresso Nacional. Segundo ele, o desempenho do político é avaliado pela capacidade de trazer benefícios para a localidade de sua base eleitoral, por meio da apresentação de emendas no Legislativo e, posteriormente, da liberação do Orçamento pelo Executivo.
O antropólogo lembra que as empresas privadas reforçam essas relações ao incluir projetos de seus interesses na formulação das demandas, apresentação de projetos e liberação de recursos. Ele assinala, no entanto, que o Estado brasileiro tem instituições que atuam para evitar e combater a corrupção como a Controladoria-Geral da União, a Polícia Federal e o Ministério Público.
Para Ricardo Caldas, “as instituições de combate à corrupção ainda não funcionam perfeitamente” e o país sofre com uma herança cultural dos tempos de colonização. “Temos um Estado patrimonial. Não conseguimos separar o público do privado”, disse referindo-se aos textos clássicos sobre a formação do país como Raízes do Brasil (Sérgio Buarque), Os Donos do Poder (Raymundo Faoro) e Carnavais, Malandros e Heróis (Roberto DaMatta).

Da Redação, com informações da Agência Brasil

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Consumo na infância

Dias atrás li um artigo que me levou ao site do Instituto Alana. O Instituto tem um projeto chamado “Projeto Criança e Consumo” que combate qualquer tipo de comunicação mercadológica dirigida às crianças.
O tema que pretendo discutir aqui pode parecer radical, ainda mais por partir de um estudante de Comunicação social com habilitação em Publicidade e Propaganda, mas concordo com o projeto.
É complicado aceitar que num país, ainda desigual como o nosso, que publicitários tentem das mais diversas formas incentivar a compra de produtos destinados a crianças. Em 2006 os investimentos publicitários destinados à categoria de produtos infantis foram de R$ 209.700.000,00. Como eu disse, isso parece radical demais, ainda mais pensando como os empresários que fazem esses produtos. A propaganda é um dos melhores meios que eles encontraram de vender.
Mas vamos a uma simulação: Uma criança de 6 anos assiste TV e vê a propaganda de um brinquedo. Por trás desses filmes existe um estudo de cor, sons, imagens, tudo para aguçar ainda mais a vontade da criança, com isso fica inevitável que ela não queira o tal produto. Agora vamos pensar nos pais. As crianças, ainda mais nessa idade, não acompanham as finanças da família (eu não conheço nenhuma, se alguém conhecer algum prodígio me desculpe) então, se seus pais forem “bem” de vida, tudo bem, ela terá o produto, agora, e se não forem?
Você pode pensar, “mas a criança tem que saber ouvir não”, concordo, mas ouvir não uma vez, duas, três, tudo bem, até filhos de pais ricos ouvem, faz parte do aprendizado, mas estamos falando daquela criança que ouvirá isso a infância inteira. Estamos falando de crianças que passarão seus primeiros anos (os mais importantes, onde ela aprenderá praticamente tudo) ouvindo que não podem ter aquele brinquedo que “todas as crianças têm”, ou que não podem comer no restaurante X ou ir ao parque Y. Como eu disse, isso soa radical, mas enquanto não tivermos um país que dê condições para que todos tenham, incentivar o consumo na infância é uma covardia por parte de um sistema que visa somente o lucro e não se preocupa com a integridade daqueles que serão o futuro do nosso país.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Quando os Trabalhadores perderem a paciência

Por Mauro Iasi

As pessoas comerão três vezes ao dia
E passearão de mãos dadas ao entardecer
A vida será livre e não a concorrência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Certas pessoas perderão seus cargos e empregos
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

O mundo não terá fronteiras
Nem estados, nem militares para proteger estados
Nem estados para proteger militares prepotências
Quando os trabalhadores perderem a paciência

A pele será carícia e o corpo delícia
E os namorados farão amor não mercantil
Enquanto é a fome que vai virar indecência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Não terá governo nem direito sem justiça
Nem juizes, nem doutores em sapiência
Nem padres, nem excelências

Uma fruta será fruta, sem valor e sem troca
Sem que o humano se oculte na aparência
A necessidade e o desejo serão o termo de equivalência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Depois de dez anos sem uso, por pura obscelescência
A filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá:
“declaro vaga a presidência”!