Texto
publicado na Agência Carta Maior
O novo tempo do PT, a priori amadurecido pelas crescentes conquistas
eleitorais, impõe uma movimentação vital: promover um balanço crítico da
estratégia do partido, questionando “se as mudanças experimentadas não
comprometem seu horizonte estratégico, seus compromissos com a democracia e o
socialismo.”Cláudio André de Souza*
É inegável na ciência política e nas demais ciências sociais a pujança da agenda de pesquisa que aliou nas últimas décadas temas como democracia, partido, políticas públicas, movimentos sociais, cultura, representação política, entre outros, a “novidade” que se tornara o Partido dos Trabalhadores (PT) no cenário político brasileiro.
O reconhecimento de sua importância em âmbito acadêmico deve-se, sobretudo, a sua origem extraparlamentar de atuação junto as bases e a forte ligação com a sociedade civil. Desde sua fundação, o PT defende um projeto socialista ligado a criação de uma democracia direta, aproximando-se às demandas sociais de igualdade e socialização dos meios de produção, e, sem dúvida, diante da ordem vigente.
Embora saibamos do pluralismo politico de suas tendências internas, a criação do PT soube combinar a radicalização de um projeto audacioso para o seu tempo com um profundo realismo politico adaptado a seara institucional. Programaticamente, o partido nasceu vocacionado a institucionalidade, mesmo reiterando nos primeiros encontros do partido a sua posição firme em ocupar os parlamentos, que deveriam estar subordinados as lutas sociais dos trabalhadores e das demais massas exploradas.
Esse “espírito” de inversão de prioridades levou o partido a formular políticas públicas identificadas com um processo de inovação democrática caracterizado, dentre outras questões, com o fortalecimento de espaços públicos e da participação direta da sociedade civil no processo decisório das instituições subnacionais.
O acúmulo de capital político traduzida em sucessivas vitórias eleitorais no inicio dos anos 2000 credenciou o partido a “radicalizar” a tática de ampliação do leque de alianças e, portanto, a apresentar em 2002 uma coligação com predominância dos partidos tradicionalmente apoiadores do PT, mas, no entanto, incluindo forças sociais e políticas conservadoras amplificadas dentro e fora dos partidos. A síntese entre capital e trabalho revelou a tensão entre os novos e velhos compromissos do PT.
O novo tempo do partido diz respeito a consolidação de um projeto político contraditório, evidenciando tensões em três níveis, o de demandas históricas da esquerda marcadas pela crítica ao liberalismo; manutenção de medidas neoliberais e a condução de políticas de bem-estar social.
O novo tempo do PT, a priori amadurecido pelas crescentes conquistas eleitorais, impõe uma movimentação vital: promover um balanço crítico da estratégia do partido, questionando “se as mudanças experimentadas não comprometem seu horizonte estratégico, seus compromissos com a democracia e o socialismo.” (Emiliano José, A Tarde, 16/01/2012). Sem se perder no passado, o PT deve olhar o futuro, compreendendo as tensões inerentes ao contexto histórico, posicionando-se diante da sua própria história nos últimos 32 anos.
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Minha opinião
Faz
um tempo que penso sobre o atual posicionamento político do Partido dos
Trabalhadores. Um partido que teve sua formação na base da sociedade não pode
esquecer suas origens... Acredito e sei da importância de certas medidas
tomadas pelo partido, como algumas alianças e concessões. Como se costuma dizer,
às vezes é preciso se submeter a certas situações para que se consiga alguma
mudança. O discurso radical, do “PT original”, não estava fazendo efeito e o
partido não conseguia espaço para propor mudanças. Com a adaptação do discurso
e as alianças políticas o PT chegou ao poder e, mesmo que não tenha feito tudo
que pretendia, conseguiu realizar significativas mudanças.
Mas
agora o tempo é outro. O Partido dos Trabalhadores está maduro, ganhou espaço e
respeito. Isso o legitima a tomar certas atitudes mais “radicais”, isto é, já
podemos falar não! Não precisamos fazer alianças com qualquer um só para ganhar
uma prefeitura.
As
mudanças foram necessárias, mas não implica numa mudança ideológica. O mundo
pede uma nova política. A América Latina desponta nesse sentido e dá exemplos a
outras nações. Não podemos perder essa maré de governos progressistas por conta
de atitudes irracionais que visam somente o poder. Costuma-se falar em “aliança
estratégica” e não “aliança ideológica”, mas sabemos que essas alianças
estratégicas não são de graça. Não podemos correr o risco de se vender a
políticos neoliberais que sempre lutaram e lutam, contra o projeto de governos
petistas.
Sobre
isso, o texto “A esquerda brasileira” discorre
um pouco sobre a questão da esquerda no Brasil e o papel do PT na conquista
desse espaço. Eu insisto em acreditar na transformação que o partido propõe,
mas sei que as dificuldades que as alianças políticas propiciam são
grandes.
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