quarta-feira, 30 de março de 2011

Em repúdio ao deputado (infelizmente) Jair Bolsonaro.


Em entrevista no CQC, que foi ao ar no dia 28 de março, o (infelizmente) deputado Jair Bolsonaro deu uma “palinha” do que foi o regime militar no Brasil e qual era o pensamentos dos militares.
No meio de declarações preconceituosas e apologias a tortura o deputado disse, entre outras coisas, quando foi questionado por Preta Gil se seu filho poderia namorar uma Negra: “não vou discutir promiscuidade com quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu.”
O pior é que a baixaria não acabou ai, Bolsonaro teve a mesma reação quando questionado sobre um relacionamento Gay.
Bom, resta saber qual atitude a Comissão de Direitos Humanos da Câmara vai ter: se uma representação contra o parlamentar na Câmara ou se uma ação judicial.
Infelizmente, crime é só o racismo, então o deputado está tentando de todo jeito ficar somente com a acusação de homofobia, do contrário ele pode ser expulso da Casa.
Ai fica a pergunta, quem vota numa pessoa dessa? Quem é capaz de eleger uma pessoa com tamanho preconceito?
Em entrevista para a Época (clique aqui para ler) o deputado, pra não perder o costume, disse mais asneiras. Dentre as perguntas estava:

E a tortura praticada pela ditadura militar?
Admito que houve alguns abusos do regime militar, mas a tortura não foi em cima de um simples preso político. Aquelas pessoas estavam armadas e matavam. Só na Guerrilha do Araguaia perdemos 16 militares.

Destacando alguns pontos da resposta “houve alguns abusos” e “perdemos 16 militares”
Alguns abusos? A ditadura toda foi um abuso contra o povo brasileiro. E será que o deputado sabe da dimensão do mal que eles fizeram para a nação? Justificar as torturas com os 16 militares que morreram é demais, por que ele não considera os milhares de torturados e mortos que lutaram pela democratização do Brasil?
É lamentável saber que pessoas, ainda hoje, defendem essas atrocidades.
Pra saber mais, leia a matéria na Carta Capita aqui.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A blogueira Yoani e suas contradições.

Segue texto escrito por Frei Betto sobre a blogueira Yoani. Muito esclarecedor. Espero que as mesmas pessoas que se mostraram dispostas a ler a opinião de Yoani, se mostrem abertas a ouvirem o outro lado da história, que claro, a mídia tradicional fez questão de esconder...

A blogueira Yoani e suas contradições.

O mundo soube que, a 7 de novembro último, a blogueira cubana Yoani Sánchez teria sido golpeada nas ruas de Havana. Segundo relato dela, “jogaram-me dentro de um carro... arranquei um papel que um deles levava e o levei à boca. Fui golpeada para devolver o documento. Dentro do carro estava Orlando (marido dela), imobilizado por uma chave de karatê... Golpearam-me nos rins e na cabeça para que eu devolvesse o papel... Nos largaram na rua... Uma mulher se aproximou: “O que aconteceu?” “Um sequestro”, respondi.

Três dias depois do ocorrido nas ruas da Havana, Yoani Sánchez recebeu em sua casa a imprensa estrangeira. Fernando Ravsberg, da BBC, notou que, apesar de todas as torturas descritas por ela, “não havia hematomas, marcas ou cicatrizes” (BBC Mundo, 9/11/2009). O que foi confirmado pelas imagens da CNN. A France Press divulgou que ela “não foi ferida.”
Na entrevista à BBC, Yoani Sánchez declarou que as marcas e hematomas haviam desaparecido (em apenas 48 horas), exceto as das nádegas, “que lamentavelmente não posso mostrar”. Ora, por que, no mesmo dia do suposto sequestro, não mostrou por seu blog, repleto de fotos, as que afirmou ter em outras partes do corpo?
Havia divulgado que a agressão ocorreu à luz do dia, diante de um ponto de ônibus “cheio de gente.” Os correspondentes estrangeiros em Cuba não encontraram até hoje uma única testemunha. E o marido dela se recusou a falar à imprensa.
O suposto ataque à blogueira cubana mereceu mais destaque na mídia que uma centena de assassinatos, desaparecimentos e atos de violência da ditadura hondurenha de Roberto Micheletti, desde 27 de junho.
Yoani Sánchez nasceu em 1975, formou-se em filologia em 2000 e, dois anos depois, “diante do desencanto e a asfixia econômica em Cuba”, como registra no blog, mudou-se para a Suíça em companhia do filho Téo. Ali trabalhou em editoras e deu aulas de espanhol.
Em 2004, abandonou o paraíso suíço para retornar a Cuba, que qualifica de “imensa prisão com muros ideológicos”. Afirma que o fez por motivos familiares. Quem lê o blog fica estarrecido com o inferno cubano descrito por ela. Apesar disso, voltou.
Não poderia ter assegurado um futuro melhor ao filho na Suíça? Por que regressou contra a vontade da mãe? “Minha mãe se recusou a admitir que sua filha já não vivia na Suíça de leite e chocolate” (blog dela, 14/08/2007).
Na verdade, o caso de Yoani Sánchez não é isolado. Inúmeros cubanos exilados retornam ao país após se defrontarem com as dificuldades de adaptação ao estrangeiro, os preconceitos contra mulatos e negros, a barreira do idioma, a falta de empregos. Sabem que, apesar das dificuldades pelas quais o país atravessa, em Cuba haverão de ter casa, comida, educação e atenção médica gratuitas, e segurança, pois os índices de criminalidade ali são ínfimos comparados ao resto da América Latina.
O que Yoani Sánchez não revela em seu blog é que, na Suíça, implorou aos diplomatas cubanos o direito de retornar, pois não encontrara trabalho estável. E sabe que em Cuba ela pode dedicar tempo integral ao blog, pois é dos raros países do mundo em que desempregado não passa fome nem mora ao relento...
O curioso é que ela jamais exibiu em seu blog as crianças de rua que perambulam por Havana, os mendigos jogados nas calçadas, as famílias miseráveis debaixo dos viadutos... Nem ela nem os correspondentes estrangeiros, e nem mesmo os turistas que visitam a Ilha. Porque lá não existem.
Se há tanta falta de liberdade em Cuba, como Yoani Sánchez consegue, lá de dentro, emitir tamanhas críticas? Não se diz que em Cuba tudo é controlado, inclusive o acesso à internet?
Detalhe: o nicho Generación Y de Sánchez é altamente sofisticado, com entradas para Facebook e Twitter. Recebe 14 milhões de visitas por mês e está disponível em 18 idiomas! Nem o Departamento de Estado do EUA dispõe de tanta variedade linguística. Quem paga os tradutores no exterior? Quem financia o alto custo do fluxo de 14 milhões de acessos?
Yoani Sánchez tem todo o direito de criticar Cuba e o governo do seu país. Mas só os ingênuos acreditam que se trata de uma simples blogueira. Nem sequer é vítima da segurança ou da Justiça cubanas. Por isso, inventou a história das agressões. Insiste para que suas mentiras se tornem realidades.
A resistência de Cuba ao bloqueio usamericano, à queda da União Soviética, ao boicote de parte da mídia ocidental, incomoda, e muito. Sobretudo quando se sabe que voluntários cubanos estão em mais de 70 países atuando, sobretudo, como médicos e professores.
O capitalismo, que exclui 4 bilhões de seres humanos de seus benefícios básicos, não é mesmo capaz de suportar o fato de 11 milhões de habitantes de um país pobre viverem com dignidade e se sentirem espelhados no saudável e alegre Buena Vista Social Club.


Frei Betto, Frade dominicano e escritor, autor de 51 livros como “Batismo de sangue” e “Cartas da prisão”.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A carta testamento

Mesmo não sendo de esquerda, é indiscutível o posicionamento anti imperialista e popular do governo Vargas.
Após seu suicídio no dia 22 de agosto de 1954, quando a carta testamento foi divulgada, o povo saiu às ruas e reagiu contra os inimigos de Vargas. Jornais e rádios foram invadidos, a embaixada americana apedrejada. O Golpe que estava sendo prestes a acontecer foi suspenso. Uma grande manifestação tomou conta do cenário político e inviabilizou a quebra que o Golpe militar faria na constituição.
Na década de 50, certo grupo revolucionário que lutava contra a ditadura dos Estados Unidos através do ditador Fulgêncio Batista, tinha a carta testamento como leitura obrigatória. O grupo em questão era do Movimento 26 de Julho, liderado por Fidel Castro, que foi o grande comandante da Revolução Cubana, prova máxima do anti imperialismo. A carta de Vargas, por sua ideologia similar a do movimento, fez parte da formação dos revolucionários.
Infelizmente a vontade que motivava o Golpe não desapareceu com a morte de Vargas, 10 anos depois as forças que o moveram foram reavivadas e se consumaram em 1964.
Segue a carta como mais um exemplo da nossa luta contra o imperialismo e a favor da soberania Nacional e latino americana.

CARTA-TESTAMENTO DE GETÚLIO VARGAS
“Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim.
Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao Governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.
Assumi o Governo dentro da aspiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta.
Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto, O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.”

Getúlio Vargas. 

sexta-feira, 18 de março de 2011

A Comuna, 140 anos!

Nesse mesmo dia, há 140 anos, aconteceu em Paris a primeira revolução operária da História: a Comuna de Paris.

A Comuna foi um movimento que mostrou o descontentamento da população contra medidas repressivas e não populares por parte do Governo de Defesa Nacional. A revolução durou 72 dias, mas contribui até hoje como reflexão e inspiração.
Em Março de 1871, pela primeira vez, trabalhadores se uniram para lutar contra a classe dominante, reivindicado seus direitos. Os trabalhadores e membros dos setores populares se uniram para formarem uma sociedade mais justa, democrática e igualitária.
Muito mais que uma vitória política, a Comuna trouxe resultados também nos setores sociais e econômicos. As empresas passaram a ser controladas pelos próprios trabalhadores, foi criado o salário mínimo, proibiu-se o trabalho infantil; móveis, utensílios domésticos e instrumentos de trabalho foram distribuídos aos trabalhadores. Foi uma clara passagem de ‘democracia’ burguesa para uma sociedade popular e operária.
As mulheres também tiveram grande participação na Comuna, que ia contra o machismo da época. Associações feministas criaram cooperativas e atuaram na reforma do ensino, realizaram trabalhos pedagógicos e de saúde. Além de participarem de edição de jornais e panfletos.
Na área da educação também tiveram grandes mudanças. Foi instituído um ensino público (gratuito) e laico. Surgia uma sociedade livre.
Durante 72 dias, todas essas mudanças e melhorias foram vividas pelos trabalhadores de Paris, e despertaram o interesse nos trabalhadores do mundo todo. Pela primeira vez, uma sociedade justa se construía, uma sociedade governada pelo povo e para o povo, era uma experiência socialista quase por se tornar uma verdade, era a esperança.
Claro que, ao mesmo tempo em que essas transformações aconteciam e agradavam os trabalhadores, a classe dominante francesa não gostava nem um pouco da situação. Então, apoiada pelo exercito prussiano, cometeram uma verdadeira atrocidade contra a Comuna, aplicaram a força bruta para a destruição daquela experiência.
Muitos foram mortos, homens, mulheres e crianças. Segundo estudos, “mais de 20 mil foram sumariamente executados. Dez mil conseguiram fugir para o exílio; quatro mil foram deportados para a Argélia, então colônia francesa na África. Entre os 38 mil presos julgados, em janeiro de 1875, 1.054 eram mulheres e 615 eram crianças com menos de 16 anos. Apenas 1.090 (do total de 38 mil) foram liberados depois de interrogatórios. “
Como definiu Lênin, “a memória dos combatentes da Comuna é exaltada não só pelos operários franceses como também pelo proletariado de todo o mundo, pois a Comuna não lutou apenas por um objetivo local ou nacional estreito, mas pela emancipação de toda a humanidade trabalhadora, de todos os humilhados e ofendidos”.
Os ideais que a Comuna pregou estão presentes até hoje, seus valores prevalecem contra as grandes atrocidades e diferenças do nosso sistema. Essas lembranças nos fortalecem no combate contra as desigualdades e injustiças. Por um mundo mais justo.

Esse texto foi baseado no artigo “A Comuna de Paris, uma fulguração na história” de Caio Toledo (Fundador e membro do Centro de Estudos Marxistas (Cemarx), Unicamp; fundador da revista Crítica Marxista)

quarta-feira, 16 de março de 2011

O cerco midiático contra Cuba


Ontem, dia 15 de março, foi realizado o debate, no sindicato dos jornalistas de São Paulo, “O cerco midiático contra Cuba”, que contou com a presença ilustre de Jakobskind, Fernando Morais e o Cônsul Cubano Lázaro.
O debate tinha por objetivo questionar a cobertura da mídia em relação a Cuba e seu regime socialista.
Fernando Morais foi brilhante, deu sua opinião sobre o bloqueio e nos deixou curiosos em relação ao seu novo livro que será lançado em Maio, “Os últimos soldados da Guerra Fria”, que conta a história dos 5 cubanos presos nos EUA até hoje, um deles condenado a 2 prisões perpétuas e mais 15 anos (é verdade! como ele vai cumprir tudo isso nem quem condenou sabe), ele contou casos das inúmeras vezes que esteve em Cuba e como o povo cubano vê o regime do comandante Fidel, muito diferente do relatado pelos grandes da mídia.
O Cônsul falou com um amor e patriotismo invejável. Falou dos índices de Cuba, diga-se de passagem, são bem melhores que muitos países ditos desenvolvidos, e da confiança do povo em relação ao regime vigente.
E Mário Augusto Jakobskind, além de sua grande contribuição no debate, também falando da sua experiência no país (Cuba) lançou, ou melhor, relançou seu livro “Cuba, apesar do bloqueio” que apresenta dados atuais de Cuba e da não-cobertura da grande mídia sobre seus méritos.
Como grande admirador de Cuba, do povo cubano, e do grande comandante Fidel, estava na primeira fileira do debate, encantado com tamanha informação que aqueles jornalista/escritores tinham. E como não podia deixar de ser já comprei o livro e comecei a ler, é muito bom, vale à pena a leitura.

quinta-feira, 10 de março de 2011

As Forças Armadas e a Comissão da Verdade.


Uma matéria bem interessante, sobre o mesmo tema do texto anterior, foi publicada no Blog do Zé. Segue abaixo o texto na íntegra

É grave a nota das Forças Armadas contra a Comissão da Verdade
Publicado em 10-Mar-2011

Não dá para aceitar o documento. Querem a reciprocidade, investigar a oposição e a resistência à ditadura? Investigar quem foi preso, torturado, condenado? Quem foi demitido e exilado, perseguido e viu sua família se desintegrar? Quem teve que viver na clandestinidade e no exílio para não ser preso e assassinado? Afirmar como o faz o documento que “passaram-se quase 30 anos do fim do governo chamado militar e muitas pessoas que viveram aquele período já faleceram: testemunhas, documentos e provas, praticamente, perderam-se no tempo" e ainda, em outro trecho, que “é improvável chegar-se realmente à verdade dos fatos”, não passa de uma falsidade escandalosa. 
Ao ler a nota elaborada pelo Exército, endossada pela Marinha e a Aeronáutica e entregue ao Ministério da Defesa contra a aprovação pelo Congresso da Comissão da Verdade, sinto que a posição externada pelo conjunto das Forças Armadas no documento é mais grave do que pareceu à 1ª vista, até mesmo para os jornais que a publicaram e repercutiram a partir de ontem.
Não dá para aceitar. Querem a reciprocidade, investigar a oposição e a resistência a ditadura? Investigar quem foi preso, torturado, condenado? Quem foi demitido e exilado, perseguido e viu sua família se desintegrar? Quem teve que viver na clandestinidade e no exílio para não ser preso e assassinado?
Mas, estes todos já foram julgados. A maioria, apesar de civis, por tribunais militares de exceção e, quando condenados, cumpriram pena. Querem que sejam investigados e julgados duas vezes ou mais?

Nota das Forças Armadas traz falsidade escandalosa

Não passa de uma falsidade escandalosa afirmar, como o faz o documento, que “passaram-se quase 30 anos do fim do governo chamado militar e muitas pessoas que viveram aquele período já faleceram: testemunhas, documentos e provas, praticamente, perderam-se no tempo" e ainda, em outro trecho, que “é improvável chegar-se realmente à verdade dos fatos”.
As testemunhas estão vivas, sim, e os documentos e provas foram destruídos ilegalmente, mas podem ser reconstituídos, de forma oral ou a partir dos fatos e provas. E o crime de destruição de provas não justifica, pelo contrário, só agrava a situação daqueles que participaram e deram as ordens.
A questão de fundo, o nome da Comissão diz tudo: é reconstituir a verdade. É fazer justiça, pelo menos histórica, já que os militares se apóiam na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que, segundo eles, impede o julgamento dos responsáveis pelas torturas e assassinatos, com a ocultação, até hoje, de cadáveres de militantes políticos da oposição ao regime militar.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Memória e Resistência

Nesta segunda-feira, dia 7, fui até o Memorial da Resistência, que fica no antigo prédio do Deops/sp. É difícil descrever a sensação de entrar num antigo lugar de tortura e sofrimento. O clima é pesado e carregado de uma história muito intensa. Andar pelos corredores é estranho, angustiante, triste. Mas ao mesmo tempo, causa felicidade em saber que hoje podemos transitar por aquele prédio, sair e entrar quando bem entendemos, é bom saber que o antigo Deops, hoje, serve para preservar a memória daqueles que lá estiveram, para representar a resistência de um dos piores momentos da nossa história. E é entre esses dois sentimentos opostos que saímos do Memorial, que pra mim, marcou como nenhum outro lugar.
E hoje, por coincidência, me deparo com a notícia “Países do Cone Sul investigam e punem criminosos das ditaduras”, publicada na Carta Capital, ficaria completamente feliz, não fosse pelo primeiro parágrafo da matéria: “Brasileiros que foram torturadores, assassinos e sequestradores durante a ditadura militar são, hoje, os privilegiados entre seus pares do Cone Sul. Os últimos anos têm servido para argentinos, chilenos e uruguaios colocarem dezenas de responsáveis por crimes de lesa-humanidade na cadeia.”
Nesse sentido não podemos negar, o Brasil está muito atrasado.
Na Argentina, Chile e Uruguai, tendo como base os tratados internacionais, a justiça já condenou os delitos cometidos na ditadura. O Brasil tem um ano para adequar suas leis de acordo com o tratado internacional, caso isso não seja feito seremos visto como país que não zela pelos direitos humanos, não que eu ache que devemos ficar nos ajustando de acordo com leis internacionais, sempre falo da nossa soberania e capacidade de auto-organização e regulamentação, mas nesse caso, acho indispensável esse tipo de ajuste.
Outro ponto a ser destacado nessa estagnação é a falta de acesso aos arquivos da ditadura brasileira. Esse tipo de ação dificulta não só a investigação no Brasil, mas em todos os países do Cone Sul, pois nós somos peça chave nas investigações da operação Condor, que foi o acordo entre diversos países sul-americanos, com o apoio (financeiro e através de treinamentos) dos EUA, para reprimir o avanço da esquerda.
Há um projeto de lei que circula na Câmara, que visa acabar com o sigilo desses documentos, além disso, temos o interesse, através da secretaria especial dos Direitos Humanos, de criar uma Comissão da Verdade. De acordo com o projeto de lei, a Comissão promoverá “o esclarecimento circunstanciado dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação de cadáveres e sua autoria, ainda que ocorridos no exterior”. Mesmo com esse avanço, setores como as Forças Armadas, são contra a Comissão, pois alegam que esse tipo de medida é tomada em períodos de transição de governos, e não é mais cabível, após mais de 30 anos do fim da ditadura, retomar esses assuntos.
Tanto a Argentina, como o Chile e Uruguai, estão há tempos lutando pela justiça após o regime militar. A Argentina, por exemplo, está desde 1983 investigando e punindo os militares da ditadura. Lá os processos também não ocorrem da melhor maneira possível, ora se vê um avanço, ora um retrocesso, mas estão caminhando. No Chile, nos últimos anos, foram condenados vários integrantes das polícias secretas, oficiais das Forças Armadas e outros repressores. E por último, no Uruguai, a discussão está chegando ao seu ponto máximo, é provável que nesse ano a Ley de Caducidad, lei de anistia do país, seja anulada. Mas enquanto isso não acontece a Suprema corte julga caso a caso, aplicando ou não a lei.
Se quisermos realmente avançar nas investigações e punições desses crimes durante a ditadura, teremos que nos organizar enquanto sociedade e lutar por isso, é preciso que o governo veja a adesão da população. Segundo um membro do governo, “O sucesso ou fracasso das políticas do governo dependerá fortemente da adesão social a esta pauta” e que, “em países como Argentina e Chile, até agora, houve muito mais participação que no Brasil.”
A conscientização nas escolas sobre o que foi a Ditadura Militar no Brasil, não só para alunos, mas também para professores, talvez seja um dos principais pontos. O programa “Direito à Memória e à Verdade” oferece cursos a professores da rede pública sobre esse período no Brasil. Com isso esperamos que, tanto alunos como professores, se interessem mais pela própria história, assim, construiremos uma sociedade engajada, que lute, não só pela punição aos responsáveis pela Ditadura, mas por todos os nossos direitos.
Um bom ponto de partida, volto a repetir, é o Memorial da Resistência, que resume de modo brilhante esse período que foi um dos mais intensos e repleto de lutas da história do Brasil. Aqueles que nasceram depois de 85, ou até pouco antes disso, não vivenciaram esse momento, mas isso não justifica o não envolvimento com o tema. Devemos valorizar todos aqueles que ofereceram suas forças para defender a nação, que lutaram até o fim pela democracia, que deixaram de lado suas vidas para lutarem por todas as vidas, que morreram, foram torturados, se engajaram, que lutaram.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Reforma Política


A reforma política está (quase) se tornando uma realidade. Nessa semana foi estabelecida uma comissão para elaborar a proposta de Reforma. O prazo para elaboração para a Câmara Federal é de 180 dias e para o senado é de 45 dias.
Nessa proposta serão tratados temas como a obrigatoriedade ou não do voto, o voto em lista, voto distrital, mudança no sistema eleitoral e financiamento de campanha, só para citar alguns exemplos.
Não tenho opinião formada sobre todos os assuntos, me simpatizo mais com uns e menos com outros, mas acredito na importância dessa discussão. São em momentos como esse que temos que pensar antes de votar. Algumas propostas podem representar grandes mudanças na política nacional e consequentemente na vida da população. É em momentos como esse que vamos ver se os candidatos que elegemos realmente nos representarão.

Uma matéria na Carta Capital que discorre melhor sobre o assunto, aqui