quarta-feira, 27 de junho de 2012

A Crise do Capital e a chance para uma nova sociedade


Por mais recorrente que sejam os textos falando da atual crise econômica, senti a necessidade de reforçar alguns pontos que já vem sendo discutidos.
Com o advento do neoliberalismo, depois da restauração capitalista que aconteceu no Leste Europeu, o espírito individualista passou a vigorar, destacando o esforço individual como único meio de melhorar a vida, negando a visão coletiva que a luta de classes propõe e, por conseguinte, o socialismo.
Depois da hegemonia do Capital, o mundo vive hoje mais uma de suas crises. Países até então imperialistas, que segundo Lênin é a “fase superior do capitalismo”, estão com suas economias quebradas.
Isso nos faz pensar na afirmação de Marx, que posteriormente foi reforçada por outros pensadores, dentre eles Robert Kurz, de que o capitalismo é autofágico.
Esse colapso do capitalismo se dá pela exploração do trabalho em função do Capital e a busca constante da Mais-valia. Não era difícil prever tal crise. É só pensar na lógica do Capital. Para obtenção de lucro, destaco duas formas, a primeira pela redução ou arrocho salarial, e a segunda pela implementação de novas tecnologias que diminuam os custos.
Para o primeiro, se prevê uma redução de salário, ou não aumento do mesmo, a fim de obter mais lucros. Só que dessa forma o Capital impede o acesso ao bem produzido pelo próprio trabalhador, o que significará uma maior oferta para pouca demanda, em outras palavras, você força uma maior produção e não aumenta o salário, privando o trabalhador da obtenção dos bens produzidos.
Para sanar essa diferença os bancos privados (e em alguns casos o governo, através de bancos estatais) oferecem créditos. Para essa “solução” é necessário o levantamento de dois pontos cruciais. Com a liberalização de crédito as empresas não se vêem forçadas a aumentarem os salários, preservando seus lucros, e transferem  essa  responsabilidade aos bancos, que é através dos pagamentos das dívidas que obtêm seus lucros.
A curto prazo, essa liberação de crédito pode se mostrar uma boa saída, mas a longo prazo pode ser caminho sem volta.  Como aconteceu na atual crise dos EUA, onde cresceu a “Bolha” de crédito, resultando numa das piores crises mundiais, que se alastrou, como efeito dominó, a todo a mundo.
O outro ponto, que diz respeito a implementação de novas tecnologias, Roberto Schwarz explica no trecho abaixo:

Pela primeira vez o aumento de produtividade está significando dispensa de trabalhadores também em números absolutos, ou seja, o capital começa a perder a faculdade de explorar o trabalho. A mão-de-obra barata e semiforçada com base na qual o Brasil ou a União Soviética contavam desenvolver uma indústria moderna ficou sem relevância e não terá comprador. Depois de lutar contra a exploração capitalista, os trabalhadores deverão se debater contra a falta dela, que pode não ser melhor.¹

Ao contrário do socialismo, que não teve chance para revisão ou atualização, que na primeira crise foi substituído, o capitalismo tem o “aval” de se revisar e buscar soluções para suas crises, sobre isso Leon Trotsky afirma que:

Não há nenhuma crise que, por si mesma, possa ser ‘mortal’ para o capitalismo. As oscilações da conjuntura criam somente uma situação na qual será mais fácil ou mais difícil para o proletariado derrotar o capitalismo. A passagem da sociedade burguesa para a sociedade socialista pressupõe a atividade de pessoas vivas, que fazem sua própria história.

Isso implica na organização dos trabalhadores. E para isso é preciso organizações que legitimem a força dos trabalhadores, como sindicatos e partidos políticos. Dentro dessa análise, vale ressaltar a afirmação de Marilena Chauí quando fala do progresso da história:

A história não é sucessão de fatos no tempo, não é progresso das ideias, mas o modo como homens determinados em condições determinadas criam os meios e as formas de sua existência social, reproduzem ou transformam essa existência social que é econômica, política e cultural

Antes disso, Marx já fez essa relação entre o modo de produção e as mudanças sociais, dizendo que “As relações sociais são inteiramente interligadas às forças produtivas.” Afirmando que, mudando o modo de produção, consequentemente se altera as relações sociais.
De acordo com essas afirmações, vai do homem “em condições determinadas”, que podemos entender pela atual crise do Capital, se organizar e romper com o atual sistema.
Nesse momento é possível ver emergir, em diversos países do mundo, organizações, partidárias ou não, de posicionamentos extremistas, como é o caso do Partido Neonazista Chryssi Avghi (Amanhecer Dourado), na Grécia , como divulgado no blog UmaCascadeNoz .
Isso mostra um claro envolvimento político que momentos como esses proporcionam. Em momentos de crise, é possível observar um maior engajamento da população, o mesmo envolvimento se dá em momentos de euforia econômica, onde se vê certa “alienação” por parte da população. E é dentro desse cenário que os extremos vêem força para atuar. Como citado acima o partido Neonazista na Grécia, ou também a vitória de Hollande, na França. Nos casos, embora incomparáveis em termos ideológicos, mostram a busca da população por alternativas que revertam o quadro de crise que assola os países.
Em meio a essa análise, de acordo com o que foi discorrido, entendo por esse momento um marco decisivo para o Capital. O julgamento há tempos adiado está acontecendo. As soluções são cada vez mais escassas, a população já não vê resultados, nem respostas de seus governantes. Surgem a cada dia novas manifestações, contestações, greves. Agora é a hora de uma esquerda organizada, capaz de unir essas forças, agir politicamente dentro da sociedade, para acabar de vez com a investida neoliberal.   


¹ A propósito do livro de Robert Kurz: O Colapso da Modernização; Da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial. Editora Paz e Terra. Ano 1991.


segunda-feira, 4 de junho de 2012

A pergunta chave para todo senso comum.


Ao estilo papagaio de pirata, tem gente que não cansa de repetir o que escuta ou assiste na grande mídia.
Não sei se em todos os lugares, mas aqui em São Paulo tenho a impressão de ter uma classe média que defende, com unhas e dentes, o título de detentora oficial do senso comum.
Que São Paulo tem um perfil mais reacionário, não é novidade. Aqui, estamos fechados à mudança, preservamos medos antigos e apoiamos valores que há tempos já não se encaixam mais à nossa sociedade.
Gosto de discussões, não fujo do debate, muito pelo contrário, acho que tudo isso acrescenta muito, mas nesse caso a questão é outra. Nessas situações, essas pessoas simplesmente repetem o que escutam, sem refletirem coisa alguma.
Quem nunca ouviu as frases: “político é tudo corrupto”, ou “esse bando de estudante maconheiro”? No meu caso, por razões obvias (basta ler meus textos) não faltam os comentários: “Como você pode gostar do Fidel Castro, aquele ditador” ou “Hugo Chaves é um maluco”, “Che Guevara era uma assassino” e por ai vai...
Aqui em São Paulo, especialmente, ouvir falar mal do Lula já virou rotina, a vantagem é que as “queixas” são sempre as mesmas, e para essas eu já tenho a resposta formada.
Dias desses, já irritado com essas repetições, fiz uma pergunta que talvez seja a chave para deixar de ouvir ou, simplesmente, para fazer com que essas pessoas pensem antes de falar. Resolvi perguntar: Por que?
As reações diante dessa pergunta foram as mais variadas.
Algumas pessoas travaram, não conseguiram falar mais nada. Outras tentaram justificar, mas sem sucesso. Algumas outras enchem o peito e soltam frases como “li na Veja” ou “passou no Jornal Nacional”, essas coisas. Para essas eu me permito não continuar, paro por ai mesmo e finjo que não escutei nada.
Mais uma vez, só pra enfatizar, o problema não é ter opinião divergente, o problema é repetir opiniões sem o menor conhecimento do fato, ao estilo papagaio de pirata...

Um trecho da música “Prioridades” de BNegão.

Osmose é como classifico quase que de vez em sempre o comportamento humano: o que quase todos fazem é o certo, o resto é pura viagem, ledo engano
Então é isso: living la vida tosca!
Nossa capacidade de enxergar a realidade será nosso passaporte de liberdade
Nosso maior inimigo somos nós mesmos
Reféns de nossa própria ignorância (ignorância da própria)