segunda-feira, 21 de março de 2011

A carta testamento

Mesmo não sendo de esquerda, é indiscutível o posicionamento anti imperialista e popular do governo Vargas.
Após seu suicídio no dia 22 de agosto de 1954, quando a carta testamento foi divulgada, o povo saiu às ruas e reagiu contra os inimigos de Vargas. Jornais e rádios foram invadidos, a embaixada americana apedrejada. O Golpe que estava sendo prestes a acontecer foi suspenso. Uma grande manifestação tomou conta do cenário político e inviabilizou a quebra que o Golpe militar faria na constituição.
Na década de 50, certo grupo revolucionário que lutava contra a ditadura dos Estados Unidos através do ditador Fulgêncio Batista, tinha a carta testamento como leitura obrigatória. O grupo em questão era do Movimento 26 de Julho, liderado por Fidel Castro, que foi o grande comandante da Revolução Cubana, prova máxima do anti imperialismo. A carta de Vargas, por sua ideologia similar a do movimento, fez parte da formação dos revolucionários.
Infelizmente a vontade que motivava o Golpe não desapareceu com a morte de Vargas, 10 anos depois as forças que o moveram foram reavivadas e se consumaram em 1964.
Segue a carta como mais um exemplo da nossa luta contra o imperialismo e a favor da soberania Nacional e latino americana.

CARTA-TESTAMENTO DE GETÚLIO VARGAS
“Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim.
Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao Governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.
Assumi o Governo dentro da aspiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta.
Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto, O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.”

Getúlio Vargas. 

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