Não
é de hoje que a polícia militar, principalmente a de SP, se mostra truculenta e
reacionário. Destaco a PM de São Paulo, pois essa reflete a postura do governo
estadual e, consequentemente, de quem o elege.
Pois
bem, partindo desse princípio, qualquer manifestação que se mostre indignada
com o trato dado pela PM aos trabalhadores e estudantes eu me coloco a favor.
Não pelo simples prazer de concordar, mas por ver uma manutenção da repressão
da ditadura, feita por uma polícia que tem como objetivo zelar pelos ricos.
Falando
exclusivamente das manifestações em torno da ocupação da polícia no campus da
USP, além dos motivos acima, me anima a mobilização estudantil, que há tempos
estava fraca por conta da partidarização do movimento e conseqüente afastamento
daqueles que deveriam ser os mais interessados, os estudantes.
O
que vemos hoje é paixão que sempre esteve presente nos estudantes, é a vontade
por mudança, é a voz daqueles que lutam pelo futuro do país.
Em
tempos de individualismo, de bandeiras fragmentadas, com o neoliberalismo
mostrando suas piores faces, essa mobilização é, no mínimo, digna de atenção.
O
ponto principal da discussão, a meu ver, é a reação da população em relação ao
caso. Grandes transformações, por maior que seja o contingente de “atuantes”,
só é possível quando cai no gosto comum, ou seja, a manifestação pode reunir
milhares de manifestantes, mas se não for uma causa geral, que a população não
apóia, não acontecerá, ou será muito mais difícil de conseguir mudanças.
Nesse
ponto, em certo sentido, estamos reféns da mídia nativa, dos senhores da casa
grande. São eles, através de seus jornalecos e revistinhas, que criam um censo
comum como acham conveniente.
No
Brasil, poucos veículos detêm a audiência de grande parte da população,
veículos esses que se
repetem, replicam, copiam e inventam as mesmas notícias e opiniões. Nesses
cenários é observado um espiral de mídia. Para ilustrar, é como acontece (não
raramente) na Globo, que pega como base a revista Veja. Depois do jornal
Nacional os jornais replicam a matéria, como Folha e Estadão, e assim por
diante. O que passa despercebido é que, nesse caso, se a informação da Veja não
for verdadeira ou estiver incompleta, todos os outros veículos estão
incompletos ou errados. É como uma pirâmide, que tirando uma peça da base toda
ela desmorona.
Claro
que a única fonte de informação não é a grande mídia (o PIG, como gosta de
chamar Paulo Henrique Amorim). Diversas outras fontes dão informações diferenciadas,
mas o que acontece é uma “pregação para convertidos”. Os que lêem essas mídias
são aqueles que já concordam com o que elas dizem.
O
que quero dizer é que são raros os casos de quem coleta informações diferentes
e entende a situação. As notícias que saem na grande mídia se tornam verdades,
sem questionamentos.
A
pergunta é, como quebrar esse ciclo de leituras? Como criar uma consciência de
que as mídias são fontes de informação (verdadeiras ou não, e parciais) dos
fatos? Não sei se é a resposta, mas a internet vem se mostrando uma grande
aliada nessa tarefa. Dentro da rede, onde qualquer um pode compartilhar um
link, os veículos ganham pesos iguais, destaques iguais. Nos resta saber até
que ponto as pessoas estão dispostas a ouvirem opiniões diferentes, e mais, não
só ouvirem mas criarem as próprias interpretações dos fatos...